quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pequenos trechos, grandes idéias
Que Fazer? - V. I. Lênin

Que Fazer? (1902)
A citação abaixo é do livro Que Fazer? do camarada Vladmir I. Lênin. Escrita em 1902, essa obra-prima do socialismo critica o revisionismo bernsteniano. Como todos os escritos do grande debate entre ortodoxos e heterodoxos, a releitura de Que Fazer? sem dúvida contribui para o debate a ser simulado no Pacto de Varsóvia - 1968. Nesse trecho em especial, o pai da Revolução Russa fala do desviacionismo (atenção para a parte em negrito) e o uso da expressão "liberdade de crítica" por parte dos revisionistas.

A liberdade é uma grande palavra, mas foi sob a bandeira da liberdade de industria que foram feitas as piores guerras de pilhagem e é sob a bandeira da liberdade de trabalho que os trabalhadores são espoliados. A expressão “liberdade crítica”, tal como é usada atualmente, encerra a mesma falsidade intrínseca. (...)

Caminhamos num pequeno grupo unido por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. Estamos cercados de inimigos por todos os lados, e, quase sempre, é preciso caminhar sob fogo cruzado. Estamos unidos por uma decisão tomada livremente, justamente para lutar contra o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes nos acusam, desde o inicio, de termos formado um grupo à parte preferindo o caminho da luta ao da conciliação. Então, de repente, alguns dos nossos começam a gritar: “Vamos para o pântano!”. E, quando os repreendemos, dizem: “Como vocês são atrasados! Não têm vergonha de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor?!” Sim, senhores, vocês são livres não apenas para nos convidar, mas para ir aonde bem entenderem, até para o pântano; achamos mesmo que seu verdadeiro lugar é justamente no pântano e estamos dispostos a fazer todo o possível para ajudar
vocês a se mudarem para lá. Mas, então, soltem das nossas mãos, não nos agarrem, nem maculem a grande palavra “liberdade”, porque também nós somos “livres” para ir aonde quisermos, livres para lutar não apenas contra o pântano, mas também contra quem se desvia para lá!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dicionário do Desviacionismo
Zinovievismo


Acima, G. Zinoviev conspira contra a revolução.
Em poucas palavras, o zinovievismo é uma sujeira.

Irmã gêmea do kamenevismo, – apesar de um possuir um caráter mais acovardado – essa prática surgiu pelas mãos traiçoeiras de Grigory Zinoviev. Esse homem foi considerado por muitos anos um intelectual gabaritado da revolução e o mais próximo o parceiro de Vladimir Ilitch Lênin. Essa cobra só mostraria suas presas no momento mais delicado da História do Partido Bolchevique e da própria Rússia.

Às vésperas da Revolução de Outubro, quando a situação ainda não estava configurada, o Comitê Central Bolchevique, encabeçado por ninguém menos que Lênin, se reuniu. A oportunidade histórica da tomada do poder era a discussão central. Foi nesse momento que Grigory Zinoviev e seu fiel aliado Lev Kamenev se opuseram a Vladimir Ilitch e à própria Revolução. A intenção dessa dupla de embusteiros era negar a imperatividade da insurgência das classes laboriosas e estabelecer um governo de coalizão com a corja menchevique e com os sociais-traidores. Essa postura covarde, que já apresentava sinais claros de desvios direitista, associacionista e conciliadorista, perduraria pelos momentos mais difíceis do estabelecimento da nova ordem.

Os tempos turbulentos da Guerra Civil já haviam passado, os erros de Zinoviev esquecidos, e o líder máximo da Revolução fatalmente adoecido, quando a face faccionista do zinovievismo surgiu. Os anos de sucessão a Lênin foram marcados por disputas acirradas no Politburo do PCUS. Stálin assumiu a responsabilidade por salvaguardar a linha do Partido dos florescentes desviacionismos. O primeiro ato para a proteção da vanguarda do proletariado foi o expurgo do infesto Trotsky e sua camarilha esquerdista. Nesse primeiro momento, em 1924-5, tanto Zinoviev como Kamenev pareceram, como em um surto de lucidez, terem se dotado de legítima consciência partidária e se juntaram a Stálin. Porém, logo a dupla revelaria sua verdadeira face. Com a Oposição de Esquerda de Trotsky enfraquecida, Zinoviev e Kamenev criariam outra facção para se opor a legítima linha defendida por Stálin. Os embates prosseguiram com Zinoviev perdendo solenemente suas bases de sustentação no Partido, uma a uma. Finalmente, no ano de 1928, uma vez que Trotsky já jazia higienicamente afastado da União Soviética, a dupla sai da cena política. Isso sem se privar de cometer um último ato de desviacionismo: em uma flagrante conduta capitulacionista Zinoviev e Kamenev despejam uma série de lamentações insinceras de autocrítica.

O fim desses dois viria com a execução impiedosa por Nikolai Iejov durante os Grandes Expurgos da década de 1930.

Em suma, o zinovievismo compõe uma bizarra mescla de inúmeros desvios, coloridos por um indefinível esquerda-direitismo pautado em uma postura intelectualmente desonesta e covarde.