quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Dicionário do Desviacionismo
Revisionismo: a herança de Bernstein

'O objetivo final não é nada; o movimento é tudo'; esta frase proverbial de Bernstein expressa a essência do revisionismo melhor que muitas extensas dissertações. Determinar o comportamento de um caso para outro, adaptar-se aos acontecimentos do dia, às mudanças dos detalhes políticos, esquecer os interesses fundamentais do proletariado e os traços fundamentais de todo regime capitalista, de toda a evolução do capitalismo, sacrificar estes interesses fundamentais no altar das vantagens reais ou supostas do momento: essa é a política revisionista.

Vladmir Lênin
Marxismo e Revisionismo (1908)
Eduard Bernstein (1905)Entende-se por revisionismo qualquer doutrina que, afirmando partir do próprio marxismo, busca repensar essa escola e as bases teóricas de Karl Marx. O revisionista mais famoso e autodeclarado foi, sem dúvida, o autor de Socialismo Evolucionário, Eduard Bernstein. Esse livro, escrito em 1898 e aclamado por vários inimigos das idéias de Marx, critica a teoria do valor, a análise histórica, a composição de classe, a estratégia política e, em larga escala, o próprio caráter de "ciência" do socialismo científico. Como Lênin diria, Bernstein, em sua saga revisionista, fez emendas por todas as obras de Marx, dando a elas um significado completamente diferente e, de acordo com o líder da Revolução de Outubro, não-marxista. Em sua obra Marxismo e Revisionismo (1908), Lênin nos diz:

A luta ideológica do marxismo revolucionário contra o revisionismo, iniciada no fim do século XIX, nada mais é que o prelúdio dos grandes combates revolucionários do proletariado, que, apesar de todas as vacilações e debilidades dos filisteus, avança até o triunfo completo da sua causa.

É verdade que, como a teoria de Marx se agrupa num bloco sólido e compacto, atacar uma simples parte costuma representar um golpe contra todo o marxismo. Rosa Luxemburgo conseguiu resumir bem no que consiste o pensamento bernsteiniano em sua obra Reforma ou Revolução?, de 1900, em que analisa, sintetiza e critica os escritos do pai do revisionismo, do reformismo e da social-democracia:

Segundo Bernstein, um desmoronamento total do capitalismo é cada vez mais improvável porque o sistema capitalista demonstra uma capacidade de adaptação cada vez maior (...) Ainda na opinião de Bernstein, a capacidade de adaptação do capitalismo manifesta-se primeiro no facto de já não existir crise generalizada (...); segundo, na tenaz sobrevivência das classes médias, resultado (...) da elevação de largas camadas do proletariado ao nível das classes médias; terceiro, finalmente, melhoria económica e política do proletariado (...)

Essas observações conduzem a consequências gerais para a luta prática da social-democracia que, na óptica de Bernstein, não deve visar a conquista do poder político, mas melhorar a situação da classe trabalhadora (...)

O próprio Bernstein não vê nada de novo nessas teses. Pensa, muito pelo contrário, que estão em conformidade com algumas declarações de Marx e Engels (...) No entanto é incontestável que a teoria de Bernstein está em absoluta contradição com os princípios do socialismo científico.

Luxemburgo, como se vê, é crítica, mas elabora uma análise fria e desapaixonada de Socialismo Evolucionário. É bom ressaltar, no entanto, que tanto ela quanto Lênin classificavam Bernstein como o líder de um grupo de oportunistas. Em um outro trecho, Rosa Luxemburgo termina:

No actual estado de coisas, a luta sindical e a luta parlamentar são encaradas como meios de dirigir e educar pouco a pouco o proletariado para a conquista do poder político. Segundo a teoria revisionista, que considera como inútil ou impossível a conquista do poder, a luta sindical e a luta parlamentar devem unicamente ser praticadas para alcançar objectivos imediatos que visem melhorar a situação material dos operários e procurem a redução progressiva da exploração capitalista (...)

A teoria de Bernstein foi a primeira e a última tentativa para fornecer ao oportunismo uma base teórica.

Após a Revolução de Outubro de 1917, com o triúnfo do bolchevismo e adoção do marxismo-leninismo por quase todos os partidos comunistas mundo à fora, a expressão revisionismo ganhou, também, um novo significado. Além de caracterizar os infantis e pequeno-burgueses críticos do marxismo e da inevitabilidade da revolução socialista, a palavra adicionalmente passou a expressar as correntes de pensamento contrárias à supremacia de Moscou. O reformismo contemporâneo, portanto, mesmo que não se baseie no bernsteinismo e nas idéias de reformas graduais, é um tipo de revisionismo. A revisão agora, no entanto, se debruça sobre o inter- nacionalismo bolchevique.

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